O episódio, conhecido como massacre do Haximu, deixou 22 indígenas mortos na serra da Parima, região de Roraima
Nelson Almeida/ AFP
Por Fabio Serapião e João Gabriel
Brasília, DF e São Paulo, SP
A Polícia Federal afirma que prendeu, na noite de quinta-feira (5), Eliézio Monteiro Nerj, um garimpeiro procurado pela Justiça por ter integrado um massacre contra indígenas yanomami, em 1993.
O episódio, conhecido como massacre do Haximu, deixou 22 indígenas mortos na serra da Parima, região de Roraima próximo à fronteira da Venezuela.
Na metade daquele ano, a tensão entre garimpeiros e indígenas estava alta. Em julho, os garimpeiros aproveitaram que os homens da aldeia Haximu haviam saído do local para participar de uma tradição e atacaram.
Os indígenas (entre eles, apenas um homem adulto, mulheres crianças e até um bebê) foram mortos a tiros e golpes de facão.
A prisão de Nerj, quase 30 anos depois do ocorrido, foi fruto de uma operação da PF com a Polícia Militar do estado. Nerj foi encontrado na rodoviária da cidade de Boa Vista.
O episódio é considerado crime de genocídio pela Justiça desde 2006, quando assim decidiu o Supremo Tribunal Federal (STF). Ele também foi condenado por contrabando e garimpo ilegal.
No total, 24 garimpeiros foram acusados de ter participado no massacre. A denúncia foi feita ainda em 1993, pelos procuradores do Ministério Público Federal em Roraima, Carlos Frederico Santos, Franklin Rodrigues da Costa e Luciano Mariz Maia.
O crime foi julgado três anos depois, em 1996, e apenas cinco, entre eles Nerj, foram condenados. O restante, não, por falta de provas -sobre muitos deles, não se sabia sequer o nome, apenas apelidos.
Atualmente, a tensão com a violência de garimpeiros contra indígenas vive nova escalada no estado.
No dia 25 de abril deste ano, lideranças indígenas locais denunciaram que integrantes do garimpo ilegal teriam sequestrado, estuprado e assassinado uma jovem de 12 anos.
A acusação foi feita pelo Condisi-YY (Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana), mas nota emitida pelo governo federal afirma que uma investigação feita pelo Ministério Público Federal, pela Funai e pela Secretaria Especial de Saúde Indígena não encontrou indícios de homicídio ou estupro.
Integrantes da Polícia Federal, por sua vez, disseram à Folha que o desaparecimento de indígenas na terra Yanomami não tem relação com a agressão de garimpeiros.
De acordo com interlocutores, policiais que estiveram com pessoas da comunidade pouco antes de os indígenas deixarem o local afirmaram que a saída teria ocorrido de forma voluntária.
A investigação sobre o caso continua em andamento. Quando a força tarefa de órgãos públicos foi à comunidade Araçá investigar a morte da jovem de 12 anos, encontrou o lugar completamente vazio e algumas casas queimadas.
Um relatório da entidade Hutukara Associação Yanomami aponta ainda que a comunidade Araçá está “em vias de desaparecimento” e que parte dela não produz a própria comida, o que aumenta a vulnerabilidade dos indígenas. Além disso, a introdução de bebidas alcoólicas e doenças pelo garimpo é outra ameaça.
A Araçá fica próxima da região de Palimiu, onde, em 2021, diversas comunidades indígenas foram atacadas por garimpeiros armados.