Notas de dólar e real
Por Luana Maria Benedito
O dólar caía nesta terça-feira, primeiro dos dois dias de reunião dos bancos centrais de Brasil e Estados Unidos, embora continuasse bem acima da marca de 5 reais, com operadores focados nas decisões de política monetária e seu potencial impacto no mercado de câmbio local e internacional.
Por aqui, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central começa seu encontro no dia em que servidores da autarquia devem retomar uma greve. O consenso nos mercados é de que a taxa Selic será elevada em 1 ponto percentual, a 12,75%, mas o foco estará nas sinalizações do colegiado sobre possíveis ajustes adicionais nos juros.
A projeção do mais recente boletim semanal Focus, divulgado na véspera pelo BC, é de que a taxa chegará a 13,25% até o final deste ano, e as estimativas de algumas instituições financeiras para a Selic chegam a superar 14%.
Juros mais altos no Brasil tendem a beneficiar o real, já que tornam os retornos da renda fixa local mais atraentes, mas os mercados financeiros não estão atentos apenas ao Copom: precisam levar em consideração a forte expectativa de endurecimento do aperto monetário nos EUA, que deve impulsionar os rendimentos da dívida norte-americana, bem mais segura que a brasileira.
A aposta num aumento de 0,5 ponto percentual nos juros pelo Federal Reserve na quarta-feira, ao fim de seu encontro de dois dias, já é praticamente consenso no mercado. Isso marcaria a dose de aperto mais intensa desde 2000, sinalizando a determinação do banco central de domar a inflação mais alta em 40 anos. Na véspera, diante dessa expectativa, a taxa do título soberano norte-americano de dez anos superou 3% pela primeira vez em mais de três anos.
“Para o Brasil, este cenário de estresse global de juros, um contexto de dólar novamente valorizado, juntamente a outras moedas de economias centrais pesa e muito na nossa inflação”, escreveu Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
“Ainda assim, apesar do estresse de curto prazo, reiteramos nossa percepção de que os juros internacionais ainda têm um spread consideravelmente distante dos rendimentos no Brasil, em especial em termos de reais, e o movimento recente de investidores estrangeiros aqui, apesar da desvalorização do real frente ao dólar, mostra que o apetite pelos ativos locais pode ser reativado.”
Depois de chegar a perder 0,88% na mínima do dia, a 5,0264 reais, às 10:16 (de Brasília) o dólar à vista recuava 0,66%, a 5,0375 reais na venda, em linha com a queda de 0,44% do índice da divisa dos EUA contra uma cesta de rivais fortes. A maioria das moedas de países emergentes também tinha recuperação contra o dólar nesta terça-feira.
A desvalorização no mercado local vem depois de, na véspera, a moeda norte-americana ter fechado em alta de 2,58%, a 5,0712 reais na venda, pico desde 16 de março passado (5,0917 reais) e maior ganho diário desde 22 de abril (+4,07%), que havia sido o salto mais intenso do dólar desde o início da pandemia de Covid-19.
A alta da sessão passada veio na esteira de avanço acumulado de 3,8% em abril, que marcou uma interrupção da tendência de queda do dólar vista nos primeiros três meses do ano –quando a moeda norte-americana perdeu 14,5%, pior desempenho trimestral desde meados de 2009.
O Banco Central realizou neste pregão leilão de até 20 mil contratos de swap cambial tradicional com vencimento em 1° de dezembro de 2022 e 3 de abril de 2023, em que vendeu o total da oferta, o equivalente a 1 bilhão de dólares, injetando liquidez nos mercados.
A operação havia sido anunciada na véspera, e marcou nova intervenção extraordinária da autarquia no mercado de câmbio, que na terça-feira passada havia vendido 500 milhões de dólares em contratos de swap em meio à disparada da divisa norte-americana frente ao real. Antes disso, no dia 22 de abril –quando o dólar saltou mais de 4%–, o BC chegou a vender 571 milhões de dólares à vista.
A autarquia também ofertará, entre 11h30 e 11h40 (de Brasília), 15 mil contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 1° de junho de 2022, operação que já era prevista em calendário.
Na B3, às 10:16 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,94%, a 5,0820 reais.