Eleições 2022: qual a importância do acordo entre TSE e WhatsApp




Entre as propostas estão a criação de um canal oficial do TSE no WhatsApp para se comunicar diretamente com os brasileiros; seminários com os Tribunais Regionais Eleitorais realizados pela plataforma, bem como a produção de uma cartilha de aspectos práticos sobre o aplicativo.

“O Tribunal Superior Eleitoral emitiu uma orientação geral a todos os tribunais, no sentido que nós temos que enfrentar a desinformação por meio de três eixos: informar, capacitar e responder”, diz a coordenadora do grupo de apoio ao combate à desinformação do TRE/SC (Tribunal Regional Eleitoral), Karine Borges de Liz.

A medida faz parte do Programa Permanente de Enfrentamento à Desinformação, instituído pela Justiça Eleitoral em 2021.

Karine explica que o objetivo é “prestar informações claras, precisas e objetivas para toda a sociedade, bem como ensinar a população e os próprios servidores a como lidar com o processo da desinformação”.

Além disso, um canal de comunicação extrajudicial exclusivamente dedicado ao TSE será criado para que a plataforma informe contas suspeitas de realizar disparos em massa de conteúdo eleitoral. O tribunal também poderá disponibilizar números de telefone de contas no aplicativo que sejam suspeitas da prática, baseado em denúncias de eleitores.
Impacto do WhatsApp na desinformação

O WhatsApp é o aplicativo de comunicação mais usado no país, com mais de 146 milhões de contas. Segundo o site Statista, 86% dos brasileiros usam a plataforma todos os dias.

Na pesquisa realizada em janeiro do ano passado, mais da metade dos entrevistados com 45 anos ou mais disseram que usam o WhatsApp como fonte de notícias.

O professor de Jornalismo da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Rogério Christofoletti, alerta que é preciso estar atento a informações “muito chamativas, cheia de adjetivos, com carga emocional muito grande”.

“Um serviço como esse ajuda a conectar outras pessoas e também a informação, mas pode haver muita desinformação. É importante que as pessoas tenham cuidado sobre os grupos que elas pertencem e informações que elas passam adiante”, reitera.

A tecnologia usada pelo aplicativo, chamada de “criptografia de ponta a ponta” garante a privacidade das conversas. “Ninguém mais pode ler ou ouvir suas conversas, nem mesmo o WhatsApp”, esclarece a página de “perguntas frequentes” da rede social.

Por isso a identificação de notícias falsas se torna ainda mais difícil, especialmente quando há grupos com 256 participantes — capacidade máxima permitida na plataforma. A expansão do tamanho dos grupos para 512 participantes foi adiada no Brasil e será disponibilizada somente após as eleições.

“O aplicativo não tem acesso ao conteúdo. Então, ele não pode fazer a moderação. O que ele faz? Reduz o tamanho dos grupos, pode reduzir também o alcance, a quantidade de vezes que a gente compartilha essas informações”, destaca Christofoletti.

Com o acordo os aplicativos devem se tornar parceiros na divulgação de informações claras, precisas e objetivas, e também auxiliar a identificar desinformações.

“Por exemplo, uma imagem, que é da eleição passada e que está sendo colocada agora, ou ‘requentada’ como se fosse desse período eleitoral. É feita uma tarja, um lembrete dizendo ‘isso é uma desinformação’ ou, a exemplo do Instagram, quando há alguma informação relacionada à eleição é disponibilizado um link direto para o Tribunal Superior Eleitoral e para os tribunais”, diz Karine. “Assim, o usuário tem acesso a informações oficiais.”
Grupo ND cria grupo para notícias de política

Para facilitar a comunicação e também difundir conteúdos de qualidade, o Grupo ND criou um grupo de WhatsApp dedicado exclusivamente ao disparo de notícias sobre política e eleições. Dessa forma, o internauta receberá notícias que passarão por uma curadoria da redação antes de serem enviadas.

O formato “nichado” por editoria segue o modelo utilizado no Grupo ND pela editoria de esportes, que desde o começo do ano já alcança mais de 1,2 mil usuários.

“Por meio dos grupos de mensagem pelo WhatsApp, a informação sobre política chegará na palma da mão do leitor, após um criterioso trabalho de produção, com o compromisso do Grupo ND de qualidade na informação”, afirma Altair Magagnin, coordenador do Projeto Voto+. Para ter acesso é preciso entrar no grupo clicando aqui.

A coordenadora do grupo de apoio à desinformação do TRE/SC aconselha a sempre se perguntar sobre a veracidade do conteúdo. “Prudência não faz mal a ninguém. Assim como antigamente a gente não caía em qualquer fofoca ou qualquer notícia sobre alguma coisa, a gente sempre tem que ficar alerta. Não acredite em tudo. Consulte.”
Comportamento do brasileiro diante de conteúdos falsos

Uma pesquisa realizada no Reino Unido e no Brasil feita em março de 2021 buscou investigar como usuários de WhatsApp respondiam a uma desinformação sobre a pandemia de Covid-19. Os resultados foram publicados no periódio Humanities and Social Sciences Communications, do grupo Nature.

Foram entrevistadas 725 pessoas do Reino Unido e 729 do Brasil, divididas em dois grupos etários: de 18 a 54 anos e a partir de 55 anos. Mais da metade dos participantes tinha ensino superior completo.

Os pesquisadores observaram que, para reconhecer a informação correta, os participantes consideraram mais o conteúdo da mensagem do que sua fonte. Os mais jovens se mostraram mais suscetíveis a acreditar em informações falsas se comparados aos mais velhos.

Os autores da pesquisa defendem que, mais do que sinalizar que uma informação é falsa e desacreditar a fonte, o mais eficaz é explicar a imprecisão da mensagem.

“Se antigamente a gente dizia que papel aceita tudo, hoje em dia com a internet aceita mais do que tudo. Então prudência, cautela, não entrem nos aplicativos com raiva, olhando as notícias, cheque elas e sempre use aquela prudência: será que isso é verdade? O que essa notícia quer me levar? Ou para onde quer me levar?”, completa Karine.
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