Por Danielle Brant
Brasília, DF
A manutenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) isolados no topo das pesquisas de intenção de voto é um dos principais entraves encontrados por Ciro Gomes, pré-candidato do PDT, para montar palanques no país.
Ciro se mantém consistentemente em terceiro lugar na disputa presidencial. Nas duas últimas pesquisas de intenção de voto divulgadas pelo Datafolha, o presidenciável aparecia em empate técnico com Sergio Moro (União Brasil).
A quase certa saída do ex-juiz da disputa, no entanto, terá pouco impacto para o pedetista –a maior parte dos votos migra para Bolsonaro.
Sem conseguir se aproximar de Lula e Bolsonaro, que, juntos, têm cerca de 70% das intenções de votos, Ciro tenta assegurar alianças em estados com maior número de eleitores, mas esbarra em resistência. Isso porque para alavancar a campanha, pré-candidatos a governos e cargos eletivos federais e estaduais buscam atrelar seus nomes aos dos dois primeiros colocados.
Isso acaba gerando dúvidas até em palanques em que o PDT considerava o apoio praticamente assegurado, como é o caso de Minas Gerais. No estado, o PSD de Gilberto Kassab lançou o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil como pré-candidato ao governo.
Em fevereiro, Ciro esteve na capital mineira quando o PSD ainda tinha o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), como pré-candidato à Presidência. Na visita, o pedetista expressou respeito à decisão do partido de Kassab de apostar em um nome próprio, mas não deixou de fazer acenos ao ex-prefeito de BH.
No mês seguinte, Pacheco desistiu da corrida presidencial. Desde então, o PSD não preencheu a vaga de presidenciável –e existe uma possibilidade grande de que isso não aconteça e de que o partido libere os diretórios para montar seus palanques.
Enquanto isso não se confirma, Kalil tem se aproximado de Lula –a avaliação é de que o apoio do petista o tornaria mais competitivo contra o atual governador, Romeu Zema (Novo). Há um entrave, porém: a intenção do PT de lançar o deputado federal Reginaldo Lopes ao Senado. O PSD quer Alexandre Silveira para a vaga.
No Rio de Janeiro, o PDT lançou o nome de Rodrigo Neves, ex-prefeito de Niterói, para o governo do estado. O retrato é bem parecido com a disputa nacional: ele aparece em quarto em um cenário com o ex-governador do Rio Anthony Garotinho (União Brasil) e em terceiro em simulação sem o político tradicional.
No estado, Ciro também negocia o apoio do PSD, que lançou o ex-presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Felipe Santa Cruz para a disputa ao Palácio Guanabara. A articulação para formação de palanque é centralizada no prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, presidente do diretório estadual do partido.
Inicialmente, Neves e Santa Cruz formariam uma chapa, mas a disputa em torno de quem encabeçaria a parceria acabou afastando a possibilidade.
Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, o PDT oficializou o nome de Elvis Cezar, ex-prefeito de Santana de Parnaíba, para a disputa do governo do estado. Elvis foi filiado ao PSDB por 19 anos.
O nome dele, por enquanto, não foi testado em nenhuma pesquisa tradicional –a do Datafolha divulgada em abril não fez simulações com o pedetista. Alguns levantamentos, no entanto, indicam que o pré-candidato teria 1% das intenções de voto.
No Nordeste, segunda região com maior número de eleitores do país, atrás do Sudeste, a situação de Ciro também é complicada. Mesmo no Ceará, base eleitoral do pedetista, há disputas internas envolvendo a formação do palanque do ex-ministro da Fazenda.
O estado registra uma disputa interna pela cabeça de chapa para a eleição de outubro ao governo, como mostrou a Folha. Os mais cotados para ocupar a posição são o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT) e a governadora Izolda Cela (PDT), que assumiu o Palácio da Abolição no dia 2 de abril após a renúncia de Camilo Santana (PT) para disputar o Senado.
A governadora teria o apoio do PT de Lula. Caso o nome escolhido seja o do ex-prefeito de Fortaleza, o partido poderia lançar candidatura própria, fortalecendo o palanque de Lula no estado –pelo acordo, o PDT disputaria o governo e, na mesma aliança, o PT lançaria Camilo Santana ao Senado.
Na Paraíba, o PDT enfrenta uma crise que culminou com uma intervenção no diretório estadual, que era comandado pela família Feliciano. A migração do deputado federal Damião Feliciano para a União Brasil fez com que o partido de Carlos Lupi retirasse Renato Feliciano, filho do parlamentar, da presidência da direção estadual.
Até então, o nome do PDT ao governo do estado era o da vice-governadora da Paraíba Lígia Feliciano, mulher de Damião. O episódio, porém, gerou incerteza em relação à manutenção da pré-candidatura da política. Mesmo sem a controvérsia o palanque já era frágil: o líder nas pesquisas de intenção de voto é o atual governador, João Azevêdo (Cidadania), que manifesta apoio público a Lula.
Um dos palanques mais fortes que o pedetista pode ter no país é a Bahia, onde o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) se inclina a apoiar Ciro. Um respaldo mais explícito, porém, só seria dado após o fim das conversas para construção de uma candidatura única na terceira via –a data oficial é 18 de maio.
Até lá, a União Brasil ainda trabalha o nome do presidente do partido, Luciano Bivar, para compor uma chapa no autodenominado “centro democrático”.
No Sul, o PDT busca palanque próprio no Rio Grande do Sul. A ideia é lançar o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan, ao governo do estado. Em simulações, ele aparece em terceiro nas pesquisas de intenção de voto. No Paraná, o partido estuda candidatura ao Senado.
Já na região Norte, há uma aliança com a família Barbalho para compartilhar o palanque no Pará com o MDB, que tem como pré-candidata a senadora Simone Tebet. No Amazonas, a defensora pública Carol Braz é o nome do partido para a disputa ao governo do estado, mas aparece distante dos líderes nas pesquisas, o ex-governador Amazonino Mendes (Cidadania), o atual governador, Wilson Lima (União Brasil) e o senador Eduardo Braga (MDB).
O presidente do PDT minimizou a relevância da polarização no país na formação dos palanques de Ciro.
“A diferença maior que tem [em relação a 2018] é que hoje tem um fundo eleitoral mais forte e muito concentrado [hoje, o maior é o do União Brasil]”, disse. Com isso, o partido tem mais recursos para injetar na campanha eleitoral, além do maior tempo de TV.
Na avaliação de Carlos Lupi, o momento ainda é de negociações e de espera. “Todo mundo vai decidir perto das convenções”, disse. “Quanto mais partidos não têm candidatos, o tempo de televisão nacional majoritário é novamente dividido proporcionalmente a quem tiver, o que acaba ajudando.”
Segundo ele, o apoio de ACM Neto a Ciro na Bahia é garantido. “Já tem esse compromisso de fazer palanque para o Ciro. Pode ser único ou não, a depender das alianças”, afirmou. Lupi disse ainda que no Rio de Janeiro e em Minas as conversas prosseguem.
“Em Minas o Kalil tem uma relação muito boa com o Ciro, de muitos anos. E na questão do Eduardo [Paes] é muito parecida. O Eduardo inclusive já declarou voto para o Ciro.”