SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - No dia em que a Ucrânia comemora 31 anos de independência do domínio soviético, o presidente Volodimir Zelenski disse que um ataque a uma estação de trem na região de Dnipropetrovsk (sudeste do país) deixou pelo menos 15 pessoas mortas e 50 feridas.
Kiev vinha alertando há dias sobre uma possível intensificação dos bombardeios da Rússia durante a data festiva, que coincidiu com os seis meses do início da guerra.
Em reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas nesta quarta-feira (24), Zelenski afirmou que forças russas dispararam mísseis contra a estação de Tchapline, a cerca de 145 quilômetros de Donetsk (cidade controlada por separatistas pró-Moscou). "Quatro vagões de passageiros estão pegando fogo. Os funcionários estão trabalhando, mas, infelizmente, o número de vítimas ainda pode aumentar", disse.
Na terça-feira (22), Zelenski havia antecipado o risco de um "ataque brutal" e outras provocações durante o Dia da Independência, feriado que ganhou novo significado diante da invasão russa em fevereiro.
Temendo que os moradores ficassem expostos a novos ataques de mísseis disparados pelo país de Vladimir Putin, o governo ucraniano proibiu eventos públicos, o que deixou as ruas da capital, Kiev, menos movimentadas do que costumam ficar durante as festividades -que são marcadas por um desfile militar.
Até o fim do dia (tarde, no Brasil) nenhum ataque havia sido registrado, embora sirenes antibombas tenham soado em Kiev e em outros locais. Mesmo com os alertas, algumas pessoas se reuniram no centro da capital, onde carcaças de tanques russos capturados em combate foram exibidas. A Khrescchatik, principal rua da cidade, transformou-se em museu militar ao ar livre para a celebração de um feriado indissociável da guerra.
"Provavelmente ninguém fez tanto para unir a Ucrânia quanto Putin", disse o ucraniano Ievhen Palamartchuk, 38, à agência Reuters. "Sempre tivemos algumas tensões internas no país, mas desde 2014, e especialmente desde fevereiro, estamos mais unidos do que nunca", acrescentou.
O tom da declaração é semelhante ao que Zelenski usou em seu discurso do Dia da Independência. Falando em frente ao monumento central de Kiev, o presidente disse que o país renasceu quando foi invadido pela Rússia, acrescentando que vai resistir à invasão até o fim, sem fazer concessões ou assumir compromissos que possam ir contra os interesses da Ucrânia.
"Uma nova nação surgiu em 24 de fevereiro às 4h da manhã. Não nasceu, mas renasceu. Uma nação que não chorou, não gritou, não se apavorou. Não fugiu. Não desistiu. E não esqueceu", afirmou o presidente, em vídeo, adotando o tom ufanista que marca seus discursos no contexto do conflito com a Rússia.
Zelenski também repetiu sua afirmação desta semana de que vai recuperar a Crimeia -anexada por Moscou em 2014- a qualquer custo, assim como as áreas do leste que foram ocupadas pelas tropas de Putin. Segundo ele, a Ucrânia não vê mais a guerra terminando quando houver paz, mas quando for, de fato, vitoriosa.
"O ocupante acreditou que em poucos dias ele estaria desfilando no centro da nossa capital. Hoje, você pode ver esse desfile em Khrescchatik. A prova de que o equipamento inimigo pode aparecer no centro de Kiev apenas dessa forma. Queimado, em ruínas e destruído", acrescentou.
Em seu discurso, o líder ucraniano também citou o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, dizendo que, mesmo falando inglês, ele é mais compreensível e próximo de Kiev do que os "assassinos, estupradores e saqueadores" que cometem esses crimes em russo.
Boris –que anunciou sua renúncia do cargo no início do mês– fez uma nova viagem surpresa à Ucrânia, onde se encontrou com Zelenski e anunciou um pacote militar de US$ 63,5 milhões (R$ 324 milhões), incluindo 2.000 drones e munições.
O premiê, a quem Zelenski descreveu como seu "querido amigo Boris", disse que é vital que a Europa mantenha seu apoio militar e econômico à Ucrânia, mesmo com o aumento dos preços da energia e dos alimentos impactando os consumidores do continente.
"Para todos os nossos amigos, eu simplesmente digo isso, devemos continuar. Devemos mostrar como amigos da Ucrânia que temos a mesma resistência estratégica que o povo da Ucrânia", disse.
Apesar do ataque à estação de trem durante a data que reuniu celebração da independência e aniversário da guerra, Putin não tentou "algo particularmente feio", como previa Zelenski, tampouco deu início ao julgamento de soldados ucranianos capturados durante a tomada de Mariupol–o que também vinha sendo alardeado como um ato de agravamento das tensões.