Da Redação
Uma empresa de consórcios, a “Realizze Assessoria e Consórcio”, está sendo acusada de praticar golpes financeiros contra dezenas de clientes em Salvador. Uma das denunciantes, Maísa Oliveira da Silva, procurou a reportagem da Cidade Aratu, programa da TV Aratu, para falar sobre o caso.
Maísa contou que, para conseguir um empréstimo de R$ 50 mil, que seria usado para financiar uma casa, pagou à Realizze uma entrada de R$ 4 mil. De acordo com ela, a empresa garantiu que, pagando esse valor, as chances de ser contemplada com um empréstimo seriam maior e, caso não desse certo, o valor investido seria devolvido na íntegra. Porém, quando a vítima pediu o dinheiro de volta, a financeira alegou a existência de uma taxa de 20%.
“Fui lá e eles me ofereceram essa carta de empréstimo no valor de R$ 50 mil para eu poder pagar R$ 62 mil. Disseram que o dinheiro entraria na minha conta entre os dia 8 e 18, e, até hoje, nada. Aí, eu resolvi fazer o cancelamento e foi negado. Eles me disseram que eu poderia estar fazendo o cancelamento a qualquer momento, que eu receberia o meu dinheiro integral de volta, e isso não aconteceu”.
Ela continuou: “Inclusive, eu tenho áudio dos próprios funcionários dizendo que eu poderia fazer o cancelamento e receber o dinheiro integral de volta, e, até hoje, nada. Me sinto enganada, trabalhei muito para juntar esse dinheiro para dar essa entrada, e, infelizmente, eles fizeram esse golpe comigo. No começo, vieram com palavras bonitas querendo me enganar, e conseguiram. Mas, não vai ficar por isso mesmo. Eles vão pagar o que fizeram comigo e espero que outras pessoas não caíam nesse golpe”.
O advogado da vítima Pedro Falcão disse que casos como esses são comuns. “Oferecem algo, mas não podem cumprir. Normalmente, oferecem garantia de contemplação nos próximos 10, 30 dias, ou ainda prometem que, se desistir, será devolvido o valor integralmente. E, na verdade, isso já é feito de forma a ludibriar. Pois, esse termo não consta no contrato”.
Logo depois de Maísa fazer a denúncia na Cidade Aratu, outra vítima, identificada como Edson Luciano, enviou um vídeo para a reportagem afirmando que também levou um golpe da assessoria financeira.
“Eu contratei a empresa ‘Realizze’ em 19 de setembro de 2022, onde teve a promessa de que eu seria contemplado no primeiro mês e adquirir quatro cotas, duas de veículos e duas de consórcio, para que eu fosse mais rápido possível contemplado, e eles garantiram que, no primeiro mês, eu seria contemplado. Isso não aconteceu e me causou problemas. Tive que vender meu veículo para ter esse dinheiro como valor de ‘lance’. Eles falam que é ‘lance’, mas é um valor de entrada”.
Antes da matéria ir ao ar nesta quarta-feira (15/3), a reportagem da Cidade Aratu entrou em contato com a equipe da financeira para pedir uma nota, entrevista ou posicionamento sobre o caso.
A reportagem contactou o consórcio pela primeira vez na terça-feira, às 10h50 da manhã. Quem respondeu foram dois colaboradores da empresa, identificados como Glauder e José Martins. Inicialmente, José Martins informou que o grupo estava coletando provas para mandar um esclarecimento completo para a equipe. Já Glauder direcionou a produção do programa ao advogado da Realizze, Tiago Pereira.
Primeiro, por ligação, Tiago afirmou que a empresa não iria se posicionar por meio de nota. Depois, em uma troca de mensagens via WhatsApp, o advogado concordou em falar com a reportagem, mas, como ele mesmo afirmou, com o objetivo de convencer a equipe da TV Aratu a não veicular a matéria sobre a financeira.
Nas mensagens, Tiago Pedreira disse que a financeira não iria se manifestar na frente das câmeras e acusou a produção de chantagem.
“Explicaremos os fatos com provas, documentos e gravações para evitar justamente a exposição indevida da empresa. Mas, a insistência de vocês em expor a empresa, mesmo constatando a regularidade da operação só reforça os crimes de chantagem feito contra a empresa”.
Na sequência, Pedreira ameaçou a produtora da Cidade Aratu, informando que irá “acioná-la junto com a cliente de forma criminal caso a empresa seja exposta de forma irresponsável sem provas de qualquer irregularidade”. Além disso, o advogado acusou a profissional de não estar fazendo jornalismo ao divulgar dezenas de denúncias recebidas por pessoas que apresentaram “prints” de conversas com vendedores e documentos, e de tentar destruir a imagem de uma “empresa idônea”.
Nesta quinta-feira (16), após a repercussão da primeiras matérias sobre o caso, que foram ao ar na quarta (15), dezenas de pessoas procuraram a reportagem para dizer que também foram vítimas da “propaganda enganosa” por parte da assessoria financeira.
Um deles, que preferiu não se identificar, mas foi até o estúdio da Cidade Aratu para falar sobre o caso, contou uma história parecida com a de Maísa: após dar um valor de entrada e não conseguir o empréstimo que precisava, não conseguiu recuperar o dinheiro investido.
Após o número de denúncias começar a crescer devido à repercussão da reportagem, a Realizza decidiu se manifestar por meio do advogado Tiago Pedreira. O profissional, em nome da empresa, porém, preferiu usar o tempo da entrevista ao vivo para voltar a atacar a produtora do programa e a equipe de jornalistas do Grupo Aratu ao invés de dar um posicionamento sobre o caso.
Quem buscar o nome da empresa no Google, vai ver que o segundo link que aparece na plataforma é o do site Reclame Aqui. Por lá, as reclamações que aparecem são relacionadas a “propaganda enganosa”, “cobrança indevida” e “falta de compromisso/profissionalismo com o cliente”.