Os soteropolitanos têm consumido mais medicamentos controlados para saúde mental, os chamados tarja vermelha ou preta. Pelo menos, é o que aponta um levantamento realizado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) a pedido do Metro1. De acordo com a pasta, o número de remédios desse tipo dispensados pelo município teve, em 2022, um crescimento de 28% quando comparado ao ano de 2018.
Só no ano passado foram distribuídos pela gestão municipal mais de 28 milhões de unidades. Entre os dez medicamentos mais dispensados, estão a Fluxetina, o Diazepam, e Clonazepam (mais conhecido como Rivotril).
Como a tendência de crescimento acontece desde 2018, antes da chegada da Covid-19 ao Brasil, a SMS não relaciona o aumento à pandemia. Especialistas, no entanto, são unânimes: o cenário de restrições e ansiedade causado pelo momento foi determinante para o uso desse tipo de medicamento. Psiquiatra e diretor-geral do Hospital Juliano Moreira, Antônio Freire defende que as consequências sociais e financeiras do coronavírus prejudicaram os fatores de proteção da saúde mental.
“Tivemos casos novos e o agravamento daqueles que já existiam. Grandes momentos de crise levam a grandes fragilidades. Não tem como negar esse impacto da pandemia. Não vejo outra justificativa para esse aumento, que aconteceu não só na saúde mental”, afirma o especialista.
De acordo com Freire, no Hospital Juliano Moreira, referência em saúde mental na Bahia, houve, desde a pandemia, um aumento de 30% tanto no número de atendimentos emergenciais quanto nas internações.
Por outro lado, a farmacêutica e conselheira do Conselho Regional de Farmácia da Bahia (CRF-BA), Luciane Manganelli, também relaciona o crescimento do uso desses medicamentos a uma onda de ansiedade no país. A especialista lembra que o Brasil foi considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o mais ansioso do mundo e um dos líderes em casos de depressão.
A farmacêutica não tem dúvidas de que os médicos estão prescrevendo mais esse tipo de remédio, mas, de acordo com ela, outro fator, que pode inclusive apontar para números ainda maiores, é a automedicação. Segundo a especialista, 77% dos brasileiros se medicam por conta própria. “E, mesmo com uma lei que controla a venda desse tipo de medicamento, ainda temos muitas drogarias que atuam de forma irregular”, afirma.
Os chamados tarja vermelha são medicamentos que causam efeito no sistema nervoso central do paciente. Já os tarja preta, além disso, podem ocasionar dependência física e psíquica.