Quinta-feira, 10 de agosto, aniversário do saudoso Jorge Amado, escritor e ilustre cidadão ilheense. As suas obras são a marca do amor, dedicação e respeito ao município que mais tarde seria rebatizado “Terra de Jorge e da Gabriela”.
Jorge Leal Amado de Faria foi um dos mais famosos escritores brasileiros de todos os tempos. Seus livros foram traduzidos em 80 países e 49 idiomas. Entre as obras aclamadas estão Gabriela Cravo e Canela; Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tieta do Agreste, passando pelas Terras do Sem-Fim; O País do Carnaval e Capitães da Areia.
Em cada recinto da cidade permanece viva a força poética e a paixão que sentia pela Bahia, mais precisamente por Ilhéus, que ambientou o caso de amor entre Gabriela e Nacib. Ele assistiu ao apogeu do cacau e narrou a intensa vida noturna litorânea, entre bares e bordéis, misturando folia e luz, cor, som e riso. Jorge Amado é a representação genuína da nossa literatura.
Suas obras são verdadeiros atrativos para conhecer Ilhéus. Fotografias, roupas e móveis nos remetem a um passado glorioso, que encanta moradores e turistas. O escritor foi o brasileiro com mais adaptações literárias para filmes, novelas, séries e peças teatrais.
Casa Jorge Amado - Não deixe de conhecer o espaço, que está aberto à visitação de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.
A seguir, o pronunciamento de Jorge Amado ao receber o título de cidadão ilheense em 1997.
A TERRA DA MINHA VIDA
“Poucas vezes me senti tão honrado em minha vida como me sinto agora. Aconteceram-me fatos diversos que levaram a mim e aos meus livros mundo afora. Eles significaram, antes de tudo, Ilhéus. Não só porque aqui comecei a vivê-los, porque aqui imaginei a escrevê-los, mas porque a presença de Ilhéus irradiou a luz especial que ilumina essas minhas pobres páginas.
É de Ilhéus que nasce o que de mais puro e sensível, o que de mais belo possa ter o que escrevi. Ilhéus como tema me inspirou, me marcou de forma profunda o que escrevi de alma e corpo, as coisas que quis dizer em todo o meu trabalho literário da decorrência de toda a minha vida, onde tantas coisas aconteceram e acontecem com aspectos tão diferentes e diversos à realidade mais distante e, por conseqüência (sic), a realidade fundamental em Ilhéus.
Vim prá’qui aos quatro anos. Aqui transcorreu a minha adolescência, vivi minha infância, corri nas ruas solto, livre, capaz de amar a liberdade sobre todas as coisas, pois a primeira lição que recebi desta terra foi a lição de liberdade.
Ilhéus não é apenas uma bela cidade do sul da Bahia, com a tradição de luta, de violência, de vida espantosamente vivida. Ilhéus é bem diferente, é bem mais que isso. É a transformação de tudo isso em criação. E a transformação de tudo isso em viva e translúcida realidade. Ilhéus para mim significa o começo e significa a construção posterior.
Quando eu, por acaso, ponho os olhos naquilo que escrevi eu vejo que Ilhéus está criança e aqui me fiz homem, aqui me fiz escritor e quando eu quero saudar a verdade de mim próprio, aquilo que é essência de meu ser, de minha vida, eu penso nessa cidade, por mais distante que eu possa estar geograficamente das suas praias, das suas ruas, da sua gente. Essa cidade me acompanha.
A cada dia eu me revejo nela, a cada dia eu me redescubro nela, a cada dia eu me sinto mais próximo e fundamental de tudo quanto eu fiz. Eu não sei se fiz grandes coisas. Algumas eu busquei fazer na minha trajetória de escritor, algumas verdades busquei dizer, algumas realidades coloquei no papel. Tomei delas da vida para transformá-las em literatura.
Tudo isso se deu porque vivi nessa cidade. A minha Ilhéus transparece a paixão pelas coisas e pelos homens, o amor infinito pela vida. Que dizer mais dessa cidade? Dizer que a amo de uma forma imensa, infinita. Meu amor por Ilhéus não tem limites, pois é o amor que vem da meninice, da adolescência, dos tempos felizes e alegres, dos dias em que eu quis aceitar a verdade da minha vida.
Quero ainda dizer que em nenhum momento desses acontecimentos que me tornaram conhecido, deixei de me lembrar /que foi aqui onde tudo começou. Foi aqui em Ilhéus, na Praça do Vesúvio, não foi noutro lugar.”