A terapeuta Transpessoal Livia Meinking explica como destravar traumas com o pai
O número de lares chefiados por mulheres cresceu 73% de 2012 a 2022. Os dados são da Fundação Getúlio Vargas que aponta um crescimento no período de 22,2 milhões para 38,3 milhões de lares com mulheres no comando, superando o número de domicílios com responsáveis homens. “O Brasil é uma nação sem pai. Basta olhar nosso histórico como nação. Dom João VI vai embora para Portugal e deixa D. Pedro I no Brasil, que repete o padrão e deixa D. Pedro II menor ainda. Temos essa orfandade na nossa origem desde o descobrimento do Brasil”, dispara Livia Meinking Terapeuta Transpessoal Sistêmica.
Na avaliação da especialista, o bloqueio paterno atinge cerca de 80% das pessoas no mundo. E o mais grave: muitas delas seguem a vida sem sequer se dar conta destas limitações que têm como origem a relação ou a falta de vínculo com seus pais. Estudo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aponta que, aproximadamente, 5,5 milhões de crianças brasileiras não possuem o nome do pai registrado na certidão de nascimento. Diante da ausência masculina, mais da metade dos lares brasileiros são chefiados por mães solos. Crianças abandonadas, rejeitadas, que crescem sem presença e afeto dos pais terão bloqueios que comprometem seu desenvolvimento emocional. “Mãe é a esfera doméstica, do cuidado. Pai é a segurança, proteção. O desconhecido é o masculino. A figura masculina é a figura da força, do enfretamento, que nos dá coragem para ir para o mundo”, contextualiza a terapeuta.
A maioria dos bloqueios tem origem na infância, quando a criança ainda não tem capacidade para lidar com muitos conteúdos emocionais. De acordo com a especialista, o bloqueio de paternidade pode ser identificado através da manifestação de vários sintomas, como insegurança, medo de abandono, de rejeição, perda de interesse, codependencia emocional. “São situações que podem ter sido causadas por diversos problemas com o pai tendo como raiz o sentimento de abandono, rejeição e desproteção. Na terapia é possível ressignificar a experiência”, destaca a especialista.
A morte precoce, a presença de um pai com dificuldade de expressar afeto, um pai agressivo, violento e até autor de abusos pode desencadear bloqueios. Um pai que desonrou, maltratou, agrediu a mãe também pode causar danos emocionais na vida dos filhos. Se o pai tinha vícios, se não participou da vida dos filhos, se foi distante emocionalmente, não dava carinho mesmo morando na mesma casa, pode ter causado algum impacto. Promessas não cumpridas podem causas bloqueios de merecimento e escassez. “Até pais presentes e perfeitos demais podem ter causado bloqueios se foram super protetores e davam exagerada atenção aos filhos”, destaca Meinking.
Afinal, existe a possibilidade de não viver esse bloqueio?
“Dificilmente... Tudo depende da forma como a pessoa significou suas experiências, pois um trauma não é o que aconteceu, mas a maneira como assimilamos”, explica a especialista lembrando que homens com bloqueio de paternidade são inseguros. “Exemplo disso são os grandes ditadores e políticos da humanidade que aprisionaram ou oprimiram as pessoas. Todos eles tiveram bloqueio de paternidade e constatamos o efeito disso justamente através dos seus comportamentos. Eles aprisionavam ou oprimiam porque, no mais profundo, eles eram homens completamente inseguros com seus pais”.
Já as mulheres que sofrem com bloqueio paterno se tornam, na maioria das vezes, codependentes emocionais, são atacadas e assediadas em diversas esferas, vivem padrões relacionais prejudiciais e abusivos com mais frequência, justamente pela insegurança interna com seus pais. “A falta do pai instala a sensação de desproteção na alma dessa mulher, o que a torna mais vulnerável em relação a quem tem uma figura paterna forte dentro de si”, diferencia.
A psicoterapeuta destaca que os bloqueios afetam homens e mulheres, mas a maneira como cada pessoa assimila as experiências é muito particular. “Na terapia o trabalho é compreender o significado dado a essas experiências para transformá-las em bem assimiladas. O caminho é chegar até a raiz do problema, encontrar a causa, a experiência primária do bloqueio, acessar e atravessar a dor e ser transformado por ela. Esse é o verdadeiro desbloqueio emocional”, detalha a especialista que em seu programa terapêutico alia à Terapia Transpessoal Sistêmica ferramentas como a terapia regressiva e a Constelação Familiar que acessam de forma prática e profunda as causas inconscientes e ocultas dos bloqueios emocionais.
Sobre Livia:
Livia Meinking é fruto da relação intensa de amor dos pais que só durou até sua infância. A separação aconteceu quando tinha sete anos. Como filha mais velha testemunhou a labuta da mãe para dar conta de criar quatro filhos sozinha. “O lado bom dessa história de superação, é que deu tudo certo e vencemos”, resume.
Administradora, empreendedora, artista plástica e musicista autodidata, aprendeu a tocar piano com o pai. “Ele me ensinou a tocar de ouvido, ou melhor, com a alma”. E foi justamente o piano que a ajudou a vencer seu maior bloqueio emocional, o BLOQUEIO DE PATERNIDADE. “Essa foi uma grande travessia de cura”.
Mãe de dois filhos, Livia se dedica ao trabalho terapêutico desde 2015. Nas suas sessões – remotas e presenciais – busca ser instrumento para que mais pessoas possam resolver seus conflitos emocionais, aprender a cuidar melhor de si, liberando-se dos pesos das experiências não assimiladas para não repetir padrões prejudiciais de vinculação nos novos relacionamentos.
O piano se tornou o símbolo do seu trabalho que tem atraído pessoas que desejam tocar a vida com mais leveza. “Uma pessoa ferida, fere outras pessoas. Uma pessoa bloqueada, bloqueia outras pessoas. Quem cuida das suas dores emocionais e permite que elas cicatrizem, consegue ajudar a cicatrizar a sua ferida e a de outras pessoas e se coloca a serviço da vida, fazendo-a fluir de forma mais leve”, convida.
(05.08.2024)