Cénario Eleitoral da Bahia: Análise Perspectiva para 2026

 

Por João Matheus, analista político

As eleições municipais de 2024 na Bahia apresentaram um panorama que pode nos dar pistas valiosas sobre a configuração política para 2026. A oposição liderada pelo grupo de ACM Neto (União Brasil) mostrou força ao vencer em 13 das 20 maiores cidades do estado, número que pode chegar a 14, caso conquiste Camaçari no segundo turno. Em contraste, a base do governador Jerônimo Rodrigues (PT) manteve sua hegemonia no interior, conquistando 309 das 417 cidades baianas.

Esse quadro, semelhante ao de 2020, revela um padrão curioso: a oposição consegue firmar seu domínio nas grandes cidades, mas a base petista compensa essa diferença ao garantir um forte apoio em municípios de menor porte. Esse fator foi decisivo em 2022, quando Jerônimo Rodrigues superou ACM Neto na disputa para o governo estadual, embora Neto tenha conquistado a maioria dos votos nas principais cidades.

Análise dos Fatores Decisivos para 2026

Para as eleições de 2026, acredito que o cenário será definido principalmente por dois fatores críticos:

1. Unidade da Base Aliada do Governador

A unidade entre os partidos que sustentam o governo de Jerônimo será essencial para garantir um bom desempenho nas urnas em 2026. Atualmente, o governador conta com o apoio de uma ampla coalizão, possivelmente, o PP — que está prestes a trazer o prefeito de Jequié para o grupo governista. No entanto, essa união esbarra em um obstáculo importante: a quantidade de pretendentes à chapa majoritária. O excesso de candidatos pode gerar disputas internas que enfraqueçam a coalizão, especialmente porque há menos vagas do que candidatos viáveis.

Caso o governador consiga administrar essas ambições e evitar que a base se fragmente, a chance de manter a vantagem eleitoral é elevada. No entanto, uma divisão pode facilitar o avanço da oposição, especialmente em áreas onde o governo já se encontra em uma posição mais frágil, como nas grandes cidades. A habilidade em consolidar uma chapa unida será o primeiro grande desafio do grupo governista.

2. O Fator Lula

Outro ponto que não pode ser subestimado é o “fator Lula.” Com uma aprovação altíssima no estado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é, historicamente, o principal cabo eleitoral do PT na Bahia. Em 2022, Lula teve papel decisivo ao garantir a vitória de Jerônimo Rodrigues no interior do estado, onde seu apoio ainda é uma força mobilizadora. Se Lula mantiver sua popularidade e decidir buscar a reeleição em 2026, sua presença no palanque baiano pode ser o impulso final para manter o PT e seus aliados no poder estadual.

A oposição, por outro lado, terá que trabalhar para neutralizar essa influência. O desafio para ACM Neto e seus aliados será encontrar uma forma de expandir seu alcance para os municípios menores, onde o PT e o PSD dominam há décadas. Embora a vitória nas grandes cidades seja importante, ela por si só não é garantia de sucesso, e a oposição precisará se reinventar no interior para competir com o peso do apoio petista.

Conclusão

As eleições de 2026 prometem ser um verdadeiro teste de força e estratégia para os dois grupos políticos na Bahia. De um lado, a base de Jerônimo Rodrigues tem o desafio de manter-se unida e contar com o apoio massivo de Lula, que é, sem dúvida, o maior cabo eleitoral do estado. De outro, a oposição liderada por ACM Neto terá que inovar para romper a barreira do interior e enfrentar a poderosa influência petista.

Esse cenário reforça a singularidade da Bahia no jogo político nacional, onde o apoio em cidades pequenas e médias pode ser tão ou mais decisivo que nas grandes capitais. Para ambos os lados, 2026 exigirá articulação, alianças sólidas e um entendimento claro de como o eleitorado baiano responde a fatores emocionais e históricos. A unidade interna e o “fator Lula” serão os elementos centrais a serem observados, pois deles depende o futuro da Bahia.

João Matheus é Analista Político, diretor do site “Políticos do Sul da Bahia” , apresenta o programa de rádio Frequência Política e é comentarista político do programa Difusora em Revista.

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