O Guedes Educandário de Ibicaraí anunciou a comemoração de 60 anos de história. Como parte das comemorações, foi celebrada uma missa na Igreja Católica. Para comemorar a data cheia em 2024, a escola parte da fundação do Jardim Infantil Príncipe Encantado, em 1964. Em 2012, o Guedes comemorou 50 anos contando da fundação da Escola José Bonifácio, em 1962.
Mas a contribuição para a educação em Ibicaraí da família criadora do Guedes é anterior à década de 1960. Começa com o trabalho do comerciante de gado e político Delfino Guedes, pai de Yolanda Nery Guedes, como vereador representante do arraial da Palestina na Câmara Municipal de Itabuna, desde quando Ibicaraí ainda não havia se emancipado. Delfino Guedes foi fundamental para que fossem criados os financiamentos que garantiram a existência das primeiras escolas de qualidade em Ibicaraí.
Em 1954, Delfino Guedes trabalhou na Câmara de Itabuna para a introdução de uma taxa de 2% sobre os impostos recolhidos no município para a manutenção e funcionamento em Ibicaraí do gratuito Colégio 14 de Agosto e para a Escola Rui Barbosa, do professor Otávio Monteiro (conforme registram as pesquisas de mestrado e doutorado de Dayse Laraine, em 2005 e 2016). Depois, como vereador no novo município, continuou a trabalhar para a educação local. Yolanda Nery obteve o primeiro lugar no exame de admissão ao primeiro ano do ginásio gratuito.
O Colégio 14 de Agosto foi a primeira escola secundária de Ibicaraí, frequentada inicialmente apenas por filhos da então elite econômica local, depois também por alguns filhos de famílias pobres que procuravam continuar os estudos. Mas a ampliação do acesso à educação secundária (hoje, Ensino Médio) pública às famílias pobres só viria a se intensificar realmente na década de 1980.
E foi na década 1980, meses depois de ter registrado em setembro de 1979 o nome de Guedes Educandário, que o colégio particular da família Guedes estabeleceu-se na Rua Monteiro Lobato, onde se mantém até hoje, em uma fase de sucesso empresarial e educacional.
Frequentado principalmente por filhos das famílias que podiam pagar por uma escola privada, enquanto as famílias pobres buscavam as instituições públicas, como o colégio cenecista, o Guedes tornou-se referência de ensino de qualidade e patrimônio cultural do município.
Por exemplo, quando apresentou um relatório para requerer o cargo de desembargadora, a juíza Sandra Rusciolelli, lembrada por seu trabalho na Comarca de Ibicaraí no final da década de 1980, fez questão de citar o Guedes como a escola onde estudaram os filhos dela.
Em 2014, a então diretora e hoje sócia-administradora Yolanda Nery Guedes, pediu ao governo do estado da Bahia a oficialização de credenciamento da escola nos já oferecidos ensinos médio e fundamental.
Para atender ao pedido, uma inspeção prévia da Secretaria de Educação da Bahia constatou condições satisfatórias de segurança e salubridade em suas dez salas de aulas, sala de professores, coordenação pedagógicas, diretoria e secretarias conjuntas, além de cantina, área livre, almoxarifado, sala de apoio, quadra poliesportiva, dois banheiros para alunos e outro usado por professores e por funcionários. A biblioteca, com área de 33,8 metros quadrados, continha quase 3 mil livros. A instituição informava que, por não possuir salas especiais, tinha uma parceria com o Celem para que os alunos usassem laboratórios de química e física da escola estadual.
Dois anos depois, as autorizações foram aprovadas pela Secretaria da Educação, com pedidos para ampliar o acervo da biblioteca em 5% e tornar a escola acessível para “pessoas com deficiência”, principalmente em relação a banheiros, entre outras relativas à formação dos professores e equipamentos pedagógicos. Também foi feito um alerta para atender às novas diretrizes legais, que exigem a troca das expulsões por medidas educativas.
A estruturação e manutenção da escola refletem o esforço da administração para adaptar-se às demandas do ensino contemporâneo, embora os recursos e o alcance continuem limitados pelo contexto socioeconômico da região.
Apesar das limitações, o Guedes Educandário se estabeleceu e se mantém como uma opção educacional relevante para a comunidade de Ibicaraí. Sua história reflete a realidade de muitas instituições educacionais privadas em cidades pequenas, que lutam para se manter operacionais diante de dificuldades financeiras e regulamentações cada vez mais rigorosas.
A trajetória da escola ilustra tanto os esforços locais para promover a educação quanto as dificuldades sistêmicas que limitam avanços mais ambiciosos em contextos de menor estrutura regional econômica e institucional.
O Guedes Educandário continua a desempenhar um papel importante no cenário educacional de Ibicaraí, mantendo-se como uma alternativa local para crianças e jovens de famílias com poder aquisitivo que buscam educação básica e média, sob uma gestão responsável e competente que, no contexto atual do município, é uma conquista louvável.
Texto: José Nilton Calazans