Origem migrante de homem que ateou fogo a mulher em NY vira munição trumpista




O suspeito é um imigrante da Guatemala que entrou no país em 2018



CAMPINAS, SP (FOLHAPRESS) - A revelação da origem migratória de um homem suspeito de atear fogo a uma mulher no metrô de Nova York neste domingo (23) virou munição para a forte retórica anti-imigração do presidente eleito nos Estados Unidos, Donald Trump, e seus aliados semanas antes do republicano.



De acordo com o chefe responsável pelos transportes da polícia de Nova York, Joseph Gulotta, o suspeito é um imigrante da Guatemala que entrou no país em 2018, foi deportado e entrou novamente de forma ilegal. A identidade do suspeito não foi revelada.



O suspeito teria, segundo testemunhos colhidos pela polícia, usado um isqueiro para queimar a roupa de uma mulher que estava imóvel em um dos vagões do metrô. Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram um homem que supostamente seria ele sentado em um banco na estação observando a mulher pegar fogo.

As forças de segurança acreditam que agressor e vítima não se conheciam, e a identidade dela também não foi revelada.

Algumas horas após o incidente, o America PAC, grupo de apoio político fundado por Elon Musk para ajudar Trump a se eleger, publicou uma foto do momento da prisão do suspeito afirmando que ele era um "estrangeiro ilegal" (em inglês, "illegal alien", termo de conotação xenofóbica usada pelo republicano ao longo da campanha). Musk retuitou a publicação.



Publicações em sequência usam montagens, algumas aparentemente geradas por inteligência artificial, exibindo a governadora de Nova York, a democrata Kathy Hochul, tirando selfies em vagões em chamas. Outras postagens mostram fotos de mulheres que seriam, supostamente, a vítima, junto de fotos de outras pessoas que foram alvo de crimes cometidos por imigrantes em situação irregular nos EUA.

A retórica virulenta anti-imigração de Trump permeou sua campanha. Em diversos comícios e entrevistas, o republicano disse que imigrantes levavam "genes ruins" para o país e "envenenavam o sangue da nação".

Ele também chegou a propor a pena de morte a imigrantes que assassinassem cidadãos americanos –embora essa seja uma atribuição dos estados, não do presidente– e sugeriu reviver uma lei do século 18 para fazer deportações em massa. Muitas de suas promessas sobre o tema têm o potencial de gerar impacto negativo na economia do país.



As entradas sem autorização explodiram durante o governo Biden, algo que se tornou um dos principais pontos de cobrança à candidatura de sua vice, Kamala Harris. Só as detenções mensais na fronteira com o México quadruplicaram de 78 mil para 302 mil, comparando janeiro de 2021 ao pico, em dezembro de 2023.

No último ano, Biden tomou medidas mais duras: em junho, por exemplo, ele fechou as fronteiras para solicitantes de asilo caso a média diária de ingressos superasse 2.500 em sete dias, marcando uma mudança radical em sua política migratória e gerando críticas de organizações de direitos humanos.

A proporção de americanos que acham que a chegada de estrangeiros deveria diminuir sobe de forma contínua desde 2020, atingindo 55% em junho de 2024, aponta pesquisa da consultora Gallup.



O assunto, no entanto, divide claramente democratas e republicanos. Os que concordam com a frase "a abertura dos EUA a pessoas do mundo inteiro é essencial para como nós nos enxergamos como nação" são 88% entre os entrevistados que pretendiam votar em Kamala, e apenas 34% entre os que declaravam voto em Trump, indicou o Pew Research Center em agosto.
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