A Rússia cumpriu a promessa de retaliar pelo ataque com mísseis americanos e britânicos contra seu território e disparou uma salva contra Kiev.
IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Guerra da Ucrânia viveu nesta sexta-feira (20) um dia de violentos ataques aéreos de lado a lado. A Rússia cumpriu a promessa de retaliar pelo ataque com mísseis americanos e britânicos contra seu território e disparou uma salva contra Kiev.
Poucas horas depois, foi a vez dos ucranianos lançarem uma salva de mísseis táticos americanos ATACMS contra a cidade de Rilsk, em Kursk, região que foi invadida por Kiev no sul russo. Na capital ucraniana morreu uma pessoa, enquanto a ação na Rússia matou ao menos seis.
O ataque a Kiev, com oito mísseis balísticos, ocorreu em um momento em que a capital vive um clima de tensão. Na véspera, o presidente Vladimir Putin havia desafiado os Estados Unidos a proteger a cidade com suas defesas antiaéreas contra o novo modelo Orechnik, naquilo que chamou de "duelo tecnológico".
O Orechnik, aveleira em russo, só foi testado uma vez em combate, no fim de novembro, contra a cidade de Dnipro. Ele foi desenhado para a guerra nuclear, e leva ogivas múltiplas aos alvos, com velocidade terminal acima de 13 mil km/h, sendo muito difícil de interceptar.
Não foi desta vez, contudo. Segundo a prefeitura da capital ucraniana, 5 dos 8 mísseis foram derrubados. Eles eram do tipo balístico de curto alcance Iskander-M e o hipersônico ar-terra Kinjal. Autoridades não detalharam quantas unidades de cada modelo foram usadas.
O Ministério da Defesa russo disse que a ação mirou fábricas ligadas à produção de mísseis e também edifícios do SBU, o serviço secreto ucraniano que matou um general russo com um patinete-bomba na terça (17) em Moscou.
A pasta, contudo, não fez referência a isso, mas sim ao emprego de seis ATACMS e quatro modelos de cruzeiro britânicos Storm Shadow contra a região meridional russa de Rostov, na quarta (18).
Além da morte e de 12 feridos, o ataque a Kiev deixou 630 edifícios sem luz e aquecimento, segundo disse no Telegram o chefe da administração militar da cidade, Sergii Popko. O bombardeio ocorreu às 7h (2h em Brasília), quando a temperatura estava um pouco acima de 0ºC.
Uma igreja histórica da cidade foi danificada, assim como o prédio da Embaixada de Portugal, o que levou a um protesto por parte de Lisboa.
Também foram abatidos, segundo Kiev, 40 de 65 drones russos lançados sobre todo o país. Mísseis foram lançados contra a cidade de Kherson, capital da província homônima que tem 70% de seu território nas mãos de Putin, com um morto e seis feridos.
Houve ações em outras cidades, como Krivii Rih, a terra natal do presidente Volodimir Zelenski. Lá, outras seis pessoas ficaram feridas.
O ataque contra Rilsk ocorreu na parte da tarde, manhã no Brasil. O governo local disse que ao menos dez pessoas ficaram feridas na ação. A cidade fica a 25 km da fronteira com a Ucrânia.
Na véspera, Zelenski havia dito a autoridades europeias em Bruxelas que o desafio feito por Putin era uma maluquice. "Você acha que isso é uma pessoa sã? São apenas canalhas", afirmou na ocasião.
Pressionado no campo de batalha, onde perdeu mais duas localidades para os russos na região de Donestk nesta sexta, e com a proximidade da posse do presumivelmente russófilo Donald Trump nos EUA, Zelenski tenta convencer países europeus a enviar tropas para a Ucrânia como forma de tentar congelar o conflito.
Com isso, admite perder, ainda que temporariamente, os 20% do país com Putin, mas o Kremlin tem mantido uma linha dura. O russo diz aceitar negociar, mas seus termos não incluem só ganhos territoriais, mas também a neutralidade militar da Ucrânia.
Antes, Zelenski havia proposto um convite para adesão parcial à Otan, mas a aliança militar ocidental preferiu investir em mais apoio ao país a arriscar uma guerra direta com a Rússia, por motivos de apocalipse possível. A França estimula a ideia das tropas, mas não há consenso no clube sobre isso.
Trump, por sua vez, já disse que condena a autorização dada por Joe Biden para Kiev usar armas contra alvos dentro da Rússia, e de forma incerta promete acabar com a guerra assim que assumir, em 20 de janeiro.