A Paixão de São José





Por Davi Lemos*

Um amor imenso, profundo e devoto era a marca deste homem que, nas narrativas evangélicas, pouco fala, mas muito escuta. Faz desta atenção aos ditames divinos o alicerce para a sua constância e surpreendente serenidade em momentos dificílimos. José enfrentou uma paixão, não como a de Seu Filho, Jesus, que redimiu a humanidade, mas como a de um cooperador fundamental para que a obra da redenção se cumprisse na história humana.

Um santo contemporâneo, São Josemaria Escrivá, fala-nos um pouco da personalidade de São José: “A Sagrada Escritura diz-nos que José era artesão. Vários Padres acrescentam que foi carpinteiro. Das narrações evangélicas depreende-se a grande personalidade humana de José: em nenhum momento surge aos nossos olhos como um homem apoucado ou assustado perante a vida; pelo contrário, sabe enfrentar os problemas, ultrapassar as situações difíceis, assumir com responsabilidade e iniciativa as tarefas que lhe são confiadas”.

A paixão de São José se inicia quando ele, já comprometido com Maria, descobre que ela estava grávida. José amava Maria imensamente; somente Jesus amou mais a Maria que ele e certamente não temos condições de imaginar a dor do pai putativo de Cristo. Como narra o Evangelho de São Mateus, “Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que ela concebeu por virtude do Espírito Santo. José, seu esposo, que era homem de bem, não querendo difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente”.

A tradição e a piedade cristãs apontam esta como sendo a primeira das sete dores de São José. Se Maria apareceu grávida e o filho não era de José, a Virgem poderia ser acusada de adultério e morrer apedrejada: e muitos pecadores estariam dispostos a arremessar a primeira pedra. Neste momento, podemos dizer que São Jose viveu a “noite escura da alma” belamente descrita no século XVI por São João da Cruz. Esta “noite” é o caminho necessário para a santidade.

“Essa luz me guiava, com mais clareza que a do meio-dia. Aonde me esperava quem eu bem conhecia, em sítio onde ninguém aparecia”. Os versos de João da Cruz dizem dessa entrega de José à providência, indo de encontro a tudo o que a evidência das horas e dos dias lhe mostravam aos olhos.

Com perseverança, o Guardião da Sagrada Família teve outras dores e tormentas. Ao saber que o filho que Maria gerava era Deus encarnado, constatou que, mesmo vindo para os que eram dele, “os seus não o acolheram” (Jo 1,1). Desta forma, com esperança, José ouviu o profeta Simeão dizer que o Menino seria sinal de contradição; perseguido, precisou exilar-se no Egito, levando Maria e o menino divino.

Como afirmado já, todo santo deve passar pelas tribulações como necessário processo de purificação. São José, celebrado neste 19 de março, foi provado na escala suprema dada a natureza especialíssima de sua missão: ser guardião da Virgem e do Menino. Ao viver as dores na escuta à vontade de Deus, São José, conforme a tradição católica, foi elevado acima dos anjos e, como diz uma contemporânea de João da Cruz, Santa Teresa D´Ávila, não há causa que seja impossível a São José.

*Davi Lemos é jornalista
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