
BlueskyThreads
Em menos de 90 dias de seu segundo mandato na Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, alcançou um feito raríssimo na política internacional: não apenas perdeu a confiança de seus aliados históricos, como também os empurrou para os braços da China, fortalecendo ainda mais o papel global do gigante asiático. A grande aposta de Trump – o tarifaço – fracassou de maneira retumbante, e a gestão caótica destes primeiros dias gerou um abalo geopolítico cujos reflexos podem ser desastrosos para os movimentos de extrema-direita em todo o continente americano – o que representa uma excelente notícia para o restante do mundo.
Na ânsia de impor tarifas exorbitantes até a países tradicionalmente aliados, Trump não apenas criou conflitos externos, mas também abriu caminho para que os países do Sul Global estabeleçam novas parcerias com Pequim, como deverá ocorrer na cúpula China-Celac marcada para maio. Desse modo, a postura isolacionista republicana tornou-se munição para o fortalecimento chinês, hoje um pólo alternativo de poder e de atração para governos descontentes com as constantes oscilações de Washington.
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O fracasso de Trump no campo econômico e diplomático tende a reverberar ainda mais na América Latina. Líderes de extrema-direita na região – como Javier Milei, um notório bajulador do trumpismo – podem ver seus projetos ruir na medida em que o maior símbolo global do populismo de direita se encontra encurralado. E, no caso de figuras já comprometidas por escândalos judiciais, a exemplo do ex-presidente Jair Bolsonaro, a derrocada de Trump funciona como um presságio ainda mais sombrio: investigado por tentativa de golpe de Estado, Bolsonaro não deverá contar com qualquer respaldo internacional, sobretudo num momento em que a comunidade global reage com desconfiança crescente aos líderes que flertam com o autoritarismo.
Nos Estados Unidos, a insegurança passou a rondar até mesmo os maiores financistas de Wall Street. Muitos que celebraram a vitória de Trump, confiando nas promessas do projeto MAGA ("Make America Great Again"), hoje se dizem alarmados com as decisões desencontradas e recuos intempestivos que o governo vem tomando. A instabilidade nos mercados de ações e câmbio, somada ao receio de uma guerra comercial em larga escala, mina a credibilidade de uma gestão já considerada uma das mais confusas na história moderna do país.
O fiasco do tarifaço expôs Trump como um líder despreparado, incapaz de articular políticas coerentes e de antecipar as reações dos demais atores globais. O resultado é um presidente encurralado, desmoralizado e percebido como um fanfarrão cujas decisões serão marcadas pela hesitação e pela desconfiança geral. Em um intervalo de tempo incrivelmente curto, ele se converte em “pato manco”, sem nada de substancial para mostrar até o fim do mandato, ao mesmo tempo em que assiste à consolidação da China como polo magnético. Como cereja do bolo, ele poderá ver ruir, em um efeito dominó, toda a base de apoio à extrema-direita que se inspirou em seu discurso. O mundo agradece.